terça-feira, 8 de outubro de 2013

Segunda



Os olhos surpresos da mãe na hora do parto refletiam as duas crianças, praticamente iguais pra falar a verdade, como isso poderia ter acontecido, os médicos ainda estavam incrédulos tentando arranjar uma explicação para o que havia acontecido. Ela estava grávida de apenas uma criança, especificamente uma menina, mas quem era aquela outra garotinha, isso não pôde ser explicado. A estranha garotinha ganhou o nome de Deuxi, enquanto sua irmã foi nomeada de Premi, apesar das duas serem quase iguais na aparência, eram totalmente diferentes na personalidade e no caráter, enquanto Prem era alegre, extrovertida, cheia de amigas, Dê era a ‘esquisita da turma’, não tinha amigos, era tímida, vivia pelos cantos e mal falava com ninguém. A infância das duas foi repleta de desigualdades, Dê tinha dificuldade em tudo, enquanto sua irmã era o contrário, Prem era a primeira em tudo, desde à participar nas aulas escola até em ajudar  a mãe nas obrigações. A mãe das meninas as tratava-as de um modo bem desigual, enquanto demonstrava o quanto amava Prem, e lhe dava atenção, olhava com certa estranheza para a outra filha e a tratava de uma maneira muito menos digna de uma mãe tratar uma filha, e Prem do mesmo modo, tinha vergonha da irmã quando estava com as amigas, e tentava manter uma certa distância. Dê era forte, e nem se importava com isso, também não se importava com as críticas que recebia na escola, nem com as meninas que ficavam rindo dela no intervalo da aula, ela achava muito idiota o modo que tais pessoas agiam, e não se importava de certo modo, apenas sentia pena de todas aquelas pessoas, vazias, tão iguais, mais iguais que ela e sua irmã, ela apenas observava tudo de longe enquanto escrevia em seu caderno. Ela nunca havia conhecido o pai, a mãe só falara algumas vezes dele, e a única coisa que ela sabia é que sua mãe havia o conhecido em um bar, os dois se apaixonaram, ele a engravidou, e logo após sumiu sem deixar rastros, ela havia pensado na possibilidade de entregar a criança para a adoção, mas como ela tinha um problema que tornava difícil para ela ter filhos, isso foi como um presente já que ela queria uma filha a muito tempo, então resolveu ter e cuidar da garota. Para Dê, o pai era alguém muito especial, como se eles fossem bem próximos. Os anos se passaram, e já fazia dez anos que as duas gêmeas haviam nascido, as coisas não mudaram muito, Prem fazia parte da turminha popular da escola, enquanto Dê continuava solitária com seu caderno, tudo continuou do mesmo modo até as duas gêmeas serem chamadas na diretoria da escola, era uma manhã fria de segunda, elas estavam na aula de artes, Prem no seu círculo de amigas conversando sem dar muita bola pra aula, e Dê no final da sala quieta e tímida como sempre, foi, quando a diretora foi até a porta da classe e chamou as duas, Prem olhou da diretora pra irmã com uma expressão que lembrava desprezo, e passou primeiro na porta sem olhar para trás acompanhando a diretora. Ao chegarem à sala da diretora, a mesma começou a falar em rodeios por cerca de uns dois minutos, até chegar no ponto onde queria chegar:
-Eles a encontraram caída no chão da sala, acham que teve um ataque, não se sabe ao certo, alguém pode ter evenenado-a ou algo do tipo, estão esperando o resultado da autópsia...
Prem ficou desesperada, logo se pôs a chorar, não podia acreditar que a mãe havia falecido, já Dê apenas observava tudo com uma expressão vazia nos olhos, sem saber o que pensar, ou talvez soubesse. A menina teve de ouvir a irmã chorando o dia todo, entrando pela noite, isso até na manhã seguinte, onde Dê se levantou, e foi para um lugar perto de sua casa onde costumava ir e sentar para escrever um pouco como sempre fazia, mas onde antes não havia nada, encontrou a irmã presa pelo pescoço com uma corda que lá havia antes, a menina simplesmente sentou no seu balanço e ficou observando o corpo da irmã balançando sem vida, até que apareceu um homem na sua frente, a fitou por alguns segundos e falou:
-Como você conseguiu amarrá-la a essa altura?
Deuxi deu um sorrisinho de leve e falou:
-Eu tenho meus truques, agora vamos que temos mais pactos a fazer.
A menina levantou-se do balanço, segurou a mão do homem, e juntos os dois caminharam em direção ao nada até sumir de vista.
Dez horas mais tarde encontraram o corpo de uma garotinha enforcado próximo a casa onde a mãe foi encontrada morta, e enquanto isso do outro lado da cidade, médicos ainda estavam incrédulos tentando arranjar uma explicação para o que havia acontecido, ela estava grávida de apenas uma criança, especificamente um menino, mas quem era aquela outra garotinha, isso não pôde ser explicado, a mãe olhou surpresa para a filha inesperada, e a menina deu um sorrisinho de leve, o único problema é que a mulher tinha uma doença que a impossibilitava de qualquer modo de ter filhos..

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